Resultado das análises
Rio Grande
Veja abaixo os textos dos pesquisadores que analisaram as amostras coletadas no Rio Grande – BA em setembro de 2006.
Concentrações de Fósforo total, Nitrogênio total e nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato nas amostras do rio Grande – Dr. Donato Seiji Abe, IIE, São Carlos.
As amostras de água coletadas ao longo do rio Grande e em alguns de seus tributários apresentaram valores reduzidos de fósforo total, nitrogênio total e das formas dissolvidas de nitrogênio e fósforo. Todos os pontos amostrados foram classificados como oligotróficos, exceto o ponto coletado no rio São Francisco, na foz do rio Grande, que apresentou-se como mesotrófico. Com relação ao nitrogênio total, e de certa forma para o fósforo total, há uma tendência de aumento da concentração da nascente para a foz, o que caracteriza um aporte crescente desses elementos ao longo do rio, porém, em escala muito reduzida.
Esses resultados demonstram que, no período amostrado, o rio recebe impacto pouco significativo com relação ao aporte de fósforo e nitrogênio na água resultante das atividades humanas na bacia hidrográfica, ou seja, o rio apresenta-se, ainda, em bom estado de conservação.
Bacterioplâncton – Dr Rodolfo Paranhos, UFRJ
Nesta campanha realizada no Rio Grande foram coletadas 21 amostras onde as bactérias foram analisadas. Neste rio, as bactérias variaram entre 224.000 a 1.260.000 células de bactérias por mililitro de água. Na maioria das amostras (14 das 21 coletadas) observamos menos de 1 milhão de bactérias por mililitro. Estes valores mais reduzidos têm explicação na classificação de oligotrófico obtida a partir dos dados de fósforo total, e ainda estão associados aos reduzidos valores observados para os outros indicadores de poluição. Nas poucas amostras em que observou-se mais de 1 milhão de bactérias, os valores foram pouco mais altos que este limite e todas as amostras foram considerados como tendo características oligotróficas, ou seja, com poucos elementos nutrientes. Desta forma podemos dizer que a análise preliminar do conjunto de dados químicos e biológicos parece indicar que boa parte do Rio Grande está em condições mais próximas das naturais e ainda sem muita influência de poluição.
Análise quantitativa da comunidade fitoplanctônica – Maria do Socorro Rodrigues – UNB, Ina de Souza Nogueira- UFG, Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira
As algas foram coletadas na superfície da água, fixadas com solução de lugol e analisadas ao microscópio óptico para identificação até nível de espécie, quando possível, com auxílio de literatura especializada. A determinação da densidade dos organismos fitoplanctônicos foi feita mediante o uso de microscópio invertido. As amostras foram coletadas em 21 pontos ao longo do Rio Grande.
Resultados Foram identificados 64 táxons de algas distribuídos em cinco classes taxonômicas: Chlorophyceae (algas verdes), Zygnemaphyceae (algas verdes), Bacillariophyceae (diatomáceas), Cyanophyceae (algas azuis) e Dinophyceae (“algas que rodopiam”). Os gráficos das figuras 1 e 2 apresentam a densidade e a riqueza dos organismos fitoplanctônicos no Rio Grande, respectivamente.
A classe Bacillariophyceae apresentou uma significativa predominância, com densidade relativa de 39% em todos os pontos amostrados, favorecidas pelas condições de turbulência típica dos rios seguida das Zygnemaphyceae, encontradas em águas com características ácidas.
No ponto 22, que corresponde ao Rio São Francisco – montante foz do Grande – foi observado um aumento significativo da densidade das Cyanophyceae (acima de 350.000 indivíduos/mL). Nesse sentido, especial atenção deve ser dada para detectar o provável fator contribuinte para a o aumento da densidade do fitoplâncton nesse trecho do rio, visando minimizar possíveis impactos que estejam atuando na estrutura da biota aquática. De acordo com as análises físicas e químicas, esse foi o único ponto considerado como mesotrófico, ou seja, que apresenta uma diferenciada concentração de material orgânico.
Nos pontos 15 (jusante Macambira), 19 (entre Serra do Boqueirão e Serra do Estreito) e 21 (foz-barra), também foi observada a presença das algas azuis, embora os valores da densidade foram bem menores que no ponto 22.
As estações 01 (nascente), 03 (Almas), 10 (jusante, São José do Rio Grande), 13 (Jupaguá), 16 (Goiabeiras) e 21 (foz-barra), apresentaram as maiores riquezas dentre as demais estações.
Os índices de diversidade calculados pela densidade numérica variaram de 0,73 bits.Ind-1 (estação 22) a 2,51 bits.Ind-1 (estação 16). Valores acima de 2,5, numa escala de 0 a 5 bits/indivíduo são indicadores de águas saudáveis. A eqüitabilidade variou de 0,53 a 1,00, com dezesseis pontos igual ou acima de 0,9, indicativo de equilíbrio ecológico entre as espécies de algas no ambiente.
Comentário Final: As cianofíceas foram encontradas em 12 dos 21 pontos amostrados no Rio Grande, distribuídas desde a nascente até antes da desembocadura. Uma vez que essas algas são potenciais produtoras de toxinas a situação do Rio Grande é preocupante, pois a presença das cianofíceas está mais difundida (mesmo considerando sua densidade mais baixa). Os gestores públicos e a população devem fazer esforços para manter a integridade das águas dos rios. Esta análise, no entanto, não leva em conta o aspecto sazonal, o que não descarta a presença ou ausência dessas algas em outras épocas do ano em diferentes trechos.