Resultado das análises
Rio Ribeira (PR/SP)
Veja abaixo os textos dos pesquisadores que analisaram as amostras coletadas no Rio Ribeira do Iguape – PR/SP em novembro de 2006.
Concentrações de Fósforo total, Nitrogênio total e nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato nas amostras do rio Ribeira – Dr. Donato Seiji Abe, IIE, São Carlos
O rio Ribeira de Iguape apresentou concentrações de fósforo total que variaram entre 26,6 a 239,0 µg-P L-1 desde a sua nascente até a foz. De uma forma geral, os valores observados entre a nascente e o ponto RIB-16, localizado a poucos quilômetros à jusante da cidade de Registro, estiveram na faixa de classificação mesotrófica, ou seja, o rio apresentou pouca variação de fósforo total ao longo do seu percurso e com características de um corpo de água com moderado grau de impacto antrópico. Uma exceção foi verificada no ponto RIB-07, localizado na cidade de Iporanga, cujo valor observado foi de 54,8 µg-P L-1, que corresponde ao estado eutrófico. Apesar de o município de Iporanga atender 89 % da coleta de esgotos domésticos, há, segundo a CETESB, uma carga poluidora remanescente de 31 kg de DBO por dia, cujo corpo receptor é o próprio Ribeira de Iguape (CETESB, 2005). Portanto, o valor elevado de fósforo total observado naquele ponto pode estar relacionado ao aporte remanescente de esgotos domésticos da área urbana. Nesse mesmo ponto foi observada a mais alta concentração de nitrogênio amoniacal e de nitrogênio total dentre as amostras analisadas, o que confirma o aporte de esgotos domésticos.
A partir do ponto RIB-17, observou-se um aumento muito significativo de fósforo total, passando para o estado hipereutrófico (221,09 µg-P L-1). O mesmo estado trófico foi observado no ponto RIB-18, localizado no Valo Grande em Iguape (239,00 µg-P L-1), sendo que no ponto RIB-19, localizado na foz do rio, houve uma diminuição na concentração de fósforo total para 69,6 µg-P L-1, que corresponde ao estado eutrófico. Os valores muito elevados de fósforo total observados nesses pontos podem estar relacionados à criação de búfalos existente no entorno do ponto RIB-17, fato este observado durante a coleta. Tal atividade está possivelmente contribuindo para a eutrofização do rio, tanto em função dos dejetos produzidos pelos animais como pela ação do pisoteio nas margens, que promove o revolvimento dos sedimentos ricos em fósforo para a coluna de água. No ponto RIB-19, por outro lado, além da carga de fósforo proveniente do ponto RIB-17, localizado mais a montante, há o aporte de esgotos domésticos do município de Iguape, que possui uma carga poluidora remanescente de 596 kg de DBO por dia no rio Ribeira de Iguape (CETESB, 2005). Já no ponto RIB-19, localizado na foz, a diminuição da concentração de fósforo total está relacionado à mistura das águas do rio com a água costeira. A diminuição da concentração do ponto RIB-18 para a foz foi também verificada com relação ao nitrato e ao nitrogênio total, o que caracteriza uma diluição desses compostos, visto que as águas marinhas, em geral, são caracterizadas por apresentar baixas concentrações de nutrientes nitrogenados. A mistura da água do rio com as águas costeiras pôde, também, ser confirmada pelos valores consideravelmente elevados de cloreto, brometo e sulfato observados nesse ponto. Tais íons estão sempre presentes em elevadas concentrações em águas marinhas. Portanto, os elevados valores de íons no ponto RIB-19 caracterizam uma água salobra, muito distinta daquelas observadas nos demais pontos do rio à montante.
Bacterioplâncton – Dr Rodolfo Paranhos, UFRJ
Nesta campanha os resultados do estado trófico já nos indicaram ambientes mais comprometidos que os observados ao longo do Rio Grande Ribeira do Iguape. Nas 18 amostras de água coletadas pelo curso do rio Ribeira do Iguape em novembro de 2006, as bactérias variaram entre 533.000 e 1.414.000 de células por mililitro. As quantidades de bactérias observadas foram semelhantes às verificadas no Rio Grande, e como os valores não são elevados (pouco maiores que um milhão por mililitro) poderiam indicar águas menos poluídas. Porém os outros dados de qualidade de água indicam boa parte das amostras como eutrofizadas, e nesta campanha os números de bactérias não tiveram boa correlação com os resultados químicos. Mas nas amostras com os maiores valores de bactérias observamos uma maior proporção de células grandes e ativas, que pode indicar que existem nutrientes em abundância, e em geral está de acordo com a classificação de índice de estado trófico. Razões como o regime dos rios, sazonalidade, fatores climáticos locais podem explicar os valores aparentemente reduzidos. Mas cabe ressaltar que os resultados ora apresentados são ainda preliminares, e as análises nas amostras estarão sendo completadas nos próximos meses.
Análise quantitativa da comunidade fitoplanctônica – Maria do Socorro Rodrigues – UNB, Ina de Souza Nogueira- UFG, Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira
As algas foram coletadas na superfície da água, fixadas com solução de lugol e analisadas ao microscópio óptico para identificação até nível de espécie, quando possível, com auxílio de literatura especializada. A determinação da densidade dos organismos fitoplanctônicos foi feita mediante o uso de microscópio invertido. As amostras foram coletadas em 19 pontos ao longo do Rio Ribeira do Iguape.
Resultados
Foram inventariadas 71 espécies de algas distribuídas em cinco classes: Chlorophyceae (algas verdes), Zygnemaphyceae, Bacillariophyceae (diatomáceas), Cyanophyceae (algas azuis) e Crysophyceae (algas douradas) (Tabela 2, anexo).
Houve predomínio das algas da classe Bacillariophyceae, com 50,7% de densidade relativa seguidas das Chlorophyceae (28,16%). As classes Zygnemaphyceae e Crysophyceae foram menos representativas tanto em densidade quanto em riqueza.
As cianofíceas ocorreram mais nas regiões de curso médio e baixo, com marcada presença no ponto RIB 13 (Rio Juquiá – montante confluência Ribeira), considerado oligotrófico.
Em média, o intervalo da densidade dos organismos fitoplanctônicos no Rio Ribeira esteve entre 100.000 e 600.00 indivíduos/mL. Isso se deve às características tróficas do Ribeira, classificado como mesotrófico, em função das atividades desenvolvidas na bacia hidrográfica, no caso, a expansão industrial, que pode estar contribuindo para alteração da comunidade fitoplanctônica.
Com exceção dos pontos 17 (trecho amplo com floresta) e 18 (canal Iguape), considerados como hipereutróficos, a densidade de algas não apresentou uma oscilação significativa entre os pontos analisados. De 19 pontos, dez apresentaram densidade acima de 300.000 indivíduos/mL.
COMENTÁRIO FINAL: No Rio Ribeira do Iguape, as cianofíceas ocorreram apenas nos trechos médio e baixo (entre RIB 13 e RIB 19), no total de oito pontos entre os 19 analisados nesse rio.
Especial atenção deve ser dada para ocorrência dessa classe uma vez que essas algas são potenciais produtoras de toxinas. Os gestores públicos e a população devem fazer esforços para manter a integridade das águas dos rios, já que não foi observada a presença das cianobactérias nas regiões de nascente e partes do curso médio.
Esta análise, no entanto, não leva em conta o aspecto sazonal, o que não descarta a presença ou ausência dessas algas em outras épocas do ano em diferentes trechos.