Resultado das análises
Rio Araguaia
Veja abaixo os textos dos pesquisadores que analisaram as amostras coletadas no Araguaia em maio e junho de 2006.
Concentrações de Fósforo total, Nitrogênio total e nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato nas amostras do rio Araguaia – Dr. Donato Seiji Abe, IIe
Entre a nascente (Ponto AR-01) e os municípios de Torixoréu e Baliza (Ponto AR-06), o rio Araguaia apresentou baixas concentrações de fósforo total, que permaneceram sempre na classificação oligotrófica. Após a cidade de Barra do Garças, houve uma tendência ao aumento da concentração e, a partir do Ponto AE-11 (Lago das Cangas), o rio passou a apresentar concentrações de fósforo total na faixa do mesotrófico até a sua foz no rio Tocantins. Esses resultados demonstram que, no período amostrado, o rio Araguaia recebe impactos moderados a partir do município de Barra do Garças até sua foz.
De forma semelhante, verificou-se um aumento progressivo de nitrogênio total ao longo do rio Araguaia, possivelmente resultante dos impactos moderados recebidos ao longo do seu percurso. Porém, esse aumento foi mais significativo a partir do ponto AR-35 (jusante de São Geraldo do Araguaia) até a sua foz. O aumento muito significativo de nitrogênio total na porção final do rio Araguaia pode ser em função do aumento dos impactos de origem antrópica nessa área, como atividade agrícola, atividade pecuária e desmatamento. Esse aumento pode ter ocorrido, também, por um processo natural, visto que o rio se torna meândrico em alguns trechos da sua porção final, a montante da cidade de Araguatins (Ponto AR-37). A menor correnteza nessas porções meândricas possibilita maior deposição de partículas orgânicas no leito do rio, o que resulta em um aumento na taxa de decomposição, tornando o ambiente mais redutor. Esse fato pode ser confirmado pelas elevadas concentrações de nitrogênio amoniacal originário da decomposição da matéria orgânica justamente na porção final do rio Araguaia, o que caracteriza, também, um ambiente predominantemente redutor. O nitrato, que caracteriza um ambiente oxidante, esteve presente em baixas concentrações nessa porção do rio, confirmando, também, um ambiente predominantemente redutor naquela porção do rio Araguaia.
O ponto AR-43, referente a um córrego do município de Conceição do Araguaia e que recebe efluentes de um curtume (dado não apresentado no gráfico), foi o único classificado como eutrófico, cuja concentração de fósforo total foi de 74,18 µg-P/L, um valor muito superior àqueles observados ao longo do rio Araguaia. Esse córrego apresentou, também, concentração muito elevada de nitrogênio total (15.434,59 µg-N/L), principalmente na forma de nitrogênio amoniacal (10.537,80 µg-N/L). O nitrogênio amoniacal em concentrações superiores a 5000 ug/L torna-se tóxico para a maioria dos peixes. Portanto, a descarga de resíduos sem tratamento pelo curtume pode estar causando um grande impacto à fauna naquele córrego. Um outro fato preocupante é que esse córrego deságua no rio Araguaia logo a montante do local onde a água é captada para o abastecimento da cidade de Conceição do Araguaia. Sabe-se que em estações de tratamento de água, o nitrogênio amoniacal reage com o cloro livre adicionado formando cloraminas, e a ação bactericida dessas formas combinadas de cloro é significativamente menor do que a do cloro livre. Com a elevada concentração de nitrogênio amoniacal na água, torna-se necessária a aplicação de concentrações mais elevadas de cloro livre para compensar a redução da ação bactericida das cloraminas, aumentando-se, assim, o custo para o tratamento. Além disso, há o fato de que os curtumes, em geral, lançam metais pesados na água como o cromo, entre outros, cuja contaminação se torna ainda mais séria para a saúde da população que consome essa água.
Bacterioplâncton – Dr Rodolfo Paranhos, UFRJ
Nas 43 amostras coletadas na campanha realizada no Rio Araguaia no mês de julho de 2006, os valores de bactérias estiveram entre um mínimo de 191 mil e um máximo de 23 milhões de células por mililitro. Boa parte destas amostras (38 de um total de 43) apresentaram valores na ordem de milhão de células por mililitro, oscilando entre 1.040.000 (que pode indicar águas mais bem conservadas) e 9.300.000 bactérias por mL (o que já diagnostica locais com problemas). No curso inicial do rio observamos os menores valores, que tendem a aumentar ao longo do curso do Rio Araguaia, que pode estar relacionado com ações antrópicas (vide o grau de estado trófico). O maior valor (2,36 x 107 céls.mL) foi observado na confluência com o Rio Tocantins.
Foi observado um predomínio de bactérias HNA (células maiores e mais ativas), com valores percentuais acima de 60-65% na maioria das amostras. Esta distribuição por tamanho das bactérias indica que existe disponibilidade de recursos tróficos (nutrientes), e está de acordo com a classificação de mesotrófica para a maior parte das amostras: já sendo um indicativo de degradação desta parte do curso do rio.
Estes resultados podem indicar preocupação com as condições ambientais ao longo deste importante rio, pois os níveis de eutrofização são perceptíveis pela interpretação (isolada ou em conjunto) de vários dos parâmetros analisados. Isso pode indicar uma tendência à degradação da qualidade da água do rio que atualmente, considerando seu tamanho, ainda apresenta boas condições.
Análise quantitativa da comunidade fitoplanctônica – Maria do Socorro Rodrigues – UNB, Ina de Souza Nogueira- UFG, Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira
Utilizou-se o método de Uthermöhl (1958) mediante o uso de microscópio invertido Zeiss modelo Telaval 31, com aumento de 400x, para contagem das amostras. A câmara de sedimentação utilizada variou em função da densidade de organismos presentes, podendo ser de 5 mL e 10 mL. Os campos foram contados até que o número de indivíduos da espécie dominante atingisse um total de no mínimo 100 indivíduos ou que pelo menos estabilizassem vinte campos contados sem a ocorrência de espécie nova. Os campos de contagem foram distribuídos em transectos verticais e horizontais paralelos cobrindo praticamente toda a área da câmara. Considerou-se como indivíduo: organismos unicelulares, filamentos, tricomas, colônias, cenóbios.
Foram registrados 90 táxons fitoplanctônicos distribuídos em 8 classes: Chlorophyceae, Zygnemaphyceae, Bacillariophyceae, Cyanophyceae, Chrysophyceae, Dinophyceae, Xanthophyceae e Euglenophyceae. Foi observada a representativa ocorrência da classe Bacillariophyceae em todo o período amostrado e em todas as estações de coleta, indicando a adaptação deste grupo aos ambientes lóticos.
Tanto a densidade quanto a riqueza dos organismos fitoplanctônicos apresentaram um crescimento gradativo, com valores mais elevados para o ponto AR 21 (estreito do rio na altura da Ilha do Bananal) com expressiva densidade de 8×105 indivíduos/mL. Dos pontos AR 26 a AR 41 (de Santa Teresinha até a foz), as densidades estiveram acima de patamares de 8×105 indivíduos/mL. A densidade esteve entre a faixa de 5×105 a 14×105.
A riqueza apresentou similar variação à apresentada pela densidade em todo período amostrado, ou seja um gradativo crescimento entre os pontos AR 01 e AR 21 (da nascente até a Ilha do Bananal), nunca ultrapassando 25 táxons.
Entre os pontos AR 24 e AR 43 (Luciara até a foz), apenas os pontos AR 39 (montante Araguatins) e AR 43 (riacho de curtume em Conceição) apresentaram baixa riqueza, com menos de 5 táxons.
A diversidade das algas variou entre 0,9 (nascente) a 2,8 bits no ponto AR 14 (meio caminho entre Cocalinho e Bandeirantes), AR-16 (meio caminho entre Bandeirantes e Luís Alves).
Quanto às algas cianofíceas, as densidades mais expressivas (entre 100.000 e 225.000 indivíduos/mL) ocorreram nos seguintes pontos: Montante de São Geraldo/Xambioá 137.500; 1ª grande curva após S.Geraldo 100.000; Alguns km rio abaixo de Sta. Isabel 100.000; Montante Araguatins 137.500; Logo na jusante de Araguatins 100.000; Aproximadamente 32 km antes da foz 237.500; Araguaia logo antes da foz 225.000.