Campanha 2 – Centro-Oeste
Nessa etapa, em novembro de 2003, passamos por Brasília, antes de seguir para Mato Grosso, passando pelo Xingu até Alta Floresta e descendo pela região do rio Juruena e a Serra dos Parecis, até Cáceres e Cuiabá. Terminamos com um susto numa cerca na Chapada dos Guimarães.
04 /11/2003 Rio de Janeiro-Brasília
Com a meteorologia prevendo tempo ruim em grande parte do Brasil nessa semana, decolamos do Rio, entre uma pancada de chuva e outra, rumo à Brasília. Não era prevista coleta de amostras nesse trecho, então subimos em ziguezague, contornando os cúmulos-nimbos tempestuosos, até sair acima da camada a 7.500 pés. Em toda Minas Gerais, entre as nuvens, vimos abaixo uma terra que pedia chuva. Perto de Dores de Indaiá, ficamos surpresos com a erosão dos morros, a vegetação desgastada, a terra nua. Atravessando a Serra da Saudade, ficou um ponto de interrogação no ar: o que fizeram com a mata que cobria essas montanhas, agora também nuas? Virou carvão para as fábricas de ferro-gusa? Que tal um programa de replantio? A Serra está mesmo com Saudade, saudade de suas árvores. Aliás, os nomes dos lugares contam a história dos antigos habitantes e da biodiversidade da área. Cidades como Pequi, Papagaios, Perdizes e Patos de Minas. E Tiros, também, para acabar com eles. Vi uma Formiga e uma Onça de Pitangui. Tem até uma Serra da Anta. Os rios não ficam para trás; tem o Dourados e o bacanérrimo Quebra Anzol que evoca imagens de peixes gigantes e pescadores frustrados. E sem perceber o tempo passar, já estava na hora de pousar em Brasília…
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Para esse dia estava programado um pouso no Lago Paranoá e uma coletiva com a imprensa; porém, por causa das incertezas da meteorologia, tivemos de adiar o evento até a volta dessa campanha, quando passaremos novamente por Brasília. Aproveitamos para ir aos maravilhosos escritórios do Ibama acompanhados da Dra. Vera Nascimento da ANA (Agência Nacional de Águas). Mais tarde fomos para a cidade-satélite de Taguatinga. Na Escola Classe 16, do grupo Amigos da Escola, fizemos uma palestra para duas turmas da escolinha, onde as crianças, muito espertas, já entenderam como devemos cuidar do meio ambiente. Fizeram uma linda peça de teatro sobre formiguinhas mostrando a importância de preservar as nossas águas. Felizmente, o futuro do nosso país vai estar em mãos cuidadosas como essas.
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06/11/2003 – Brasília-Rio von den Steinen
A partida de Brasília foi atrapalhada pelo mau tempo. Chegamos ao aeroporto às 8h30 e o teto somente permitiu a decolagem às 11h. Esse atraso acabou provocando um desfecho inesperado no final do dia. Seguimos sobre o planalto, passando acima da cidade de Goiás onde o rio Vermelho causou tantos estragos numa enchente há algum tempo atrás. Quando passamos, ele estava mansinho e raso demais para coletarmos água! Pegamos amostras de outros rios, então, muito lamacentos – das Almas, das Mortes, o Claro (nada claro) e o Araguaia –, pousando para abastecer em Barra do Garças. Aproando ao norte, abastecemos novamente em Canarana para aumentar a autonomia justamente para a área do Xingu. A idéia era atravessar o Parque Indígena do Xingu e pernoitar na Fazenda Uirapuru, na Pousada Xingu Refúgio. Mas estávamos com vento contra, o céu escurecendo… Pelas coordenadas que tínhamos, a fazenda estava perto, mas não conseguíamos avistá-la… Resolvemos pousar no rio von den Steinen. Eis a grande vantagem de um hidroavião – rios são pistas! Estávamos perto de uma queimada e deparamos com o assustado Flávio, na beira do rio, pensando que fosse a polícia! Gérard berrou para ele ajudar segurando o nariz do avião enquanto nos aproximávamos da beira do rio e das árvores… Gérard, ainda vestido, pulou dentro da água, sumindo até o pescoço. Com a ajuda do Flávio, conseguimos atracar. Chegaram Dona Alair e Wilmar, desse novo assentamento; eles tinham armado uma lona na beira do rio. Foi ali que Dona Alair preparou um arroz-carreteiro para a gente jantar (estávamos roxos de fome, sem ter almoçado) e fomos dormir na barraca do Flávio – o rapaz nos cedeu um colchão no chão, e ali dormimos debaixo da lona de plástico, aberta para a noite estrelada. E o Talha-Mar dormiu no rio, amarrado às arvores e encostado ao barco do Flávio…uma aventura deliciosa.
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07/11/2003 – Rio von den Steinen-Xingu Refúgio
Acordamos com os gritos dos papagaios. Eram 5h. Dona Alair já tinha o café pronto – que luxo! – e fritava bolo enquanto Wilmar levava Gérard de canoa para examinar o rio e acertar onde era melhor lugar para decolar. Concluíram que o melhor lugar era onde estávamos mesmo. Nos despedimos emocionados dessas três pessoas gentis, brincalhonas e generosas que nos haviam acolhidos na noite anterior. Flávio e Wilmar ajudaram empurrar o Talha-mar para dentro do rio, longe das árvores e Gérard ligou o motor rapidinho – felizmente pegou de primeira antes que a correnteza nos levasse embora. Decolamos meio no sufoco e lá, a 20 km de onde pousáramos no rio, estava a Fazenda Uirapuru, nosso destino original, tão pertinho! Sobrevoamos as cabanas da Pousada Xingu Refúgio, numa clareira gramada também na beira do rio Steinen, e seguimos para o pouso ma sede onde João Vicentini nos esperava. À tarde, saímos para coletar sedimentos no fundo de um pequeno lago preservado, sem impacto humano. À noite, delicioso jantar de matrinxã cozido pela Dona Teresa e, sem desmerecer o colchão que Flávio ofereceu com tanto coração no dia anterior, caímos numa cama mais deliciosa ainda… Que vida bonita, cheia de contrastes.
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Um dia lindo, céu azul sobre o Xingu. Decolamos da Fazenda Uirapuru, aproamos primeiro para o rio Arraias e, num lugar onde ele se desdobra no meio de um pântano, coletamos água limpinha, transparente, sem lama. Até que enfim! Passamos o dia sobrevoando floresta; só floresta por todos os lados, até o horizonte. Linda demais. Cortada por numerosos rios sinuosos, pequenos lagos, pântanos. Exuberância. Ao meio-dia, pousamos no rio Tuatuari, onde fica a aldeia Yawalapiti. Festa para as crianças índias; pularam dentro da água em volta do avião, gritando e brincando muito. Havia dez anos que Gérard não via o cacique Aritana; foi um alegre reencontro. Na aldeia, Aritana falou da preocupação de todas as tribos do Xingu sobre a destruição das nascentes dos rios, pois fazendeiros de soja e cana desmatam indiscriminadamente, sem pensar nas pessoas que moram rio abaixo, deixando o veneno que colocam nos campos correr livremente para a água. Os rios, que antes eram cristalinos, agora descem barrentos, sem falar da quantidade de peixes que caiu drasticamente. Aritana se mostrou animado com a idéia da pesquisa e pediu para coletarmos água em dois pontos específicos no dia seguinte. É impressionante a preocupação deles com o futuro de suas crianças e netos. Por que será que, nas grandes cidades, não conseguimos ter uma visão além das nossas necessidades individuais e imediatas? Poderíamos adotar práticas menos egoístas e pensar no futuro dos que nem nasceram ainda. Gérard convidou Aritana para voar no Talha-mar: ele aceitou com entusiasmo, decolando e pousando na água enquanto eu ficava na beira do rio, acompanhada da platéia que veio da aldeia para ver o voo. À noite, voltamos para o aconchego da pousada do João Vicentini, e um churrasco com todo o pessoal da fazenda.
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09/11/2003 – Xingu Refúgio-Alta Floresta
Mais um dia de céu azul acima do Xingu. Nos despedimos do João e dos amigos do Xingu Refúgio, prometendo voltar, e voamos em direção ao Parque Indígena do Xingu para coletar água nos lugares indicados por Aritana. Desta vez, também pousamos no lago Ypawu do povo Kamayurá, onde cacique Kotoky nos esperava. Outra cena de festa com as crianças pulando e brincando na água em torno do avião na praia do lago. Como Aritana no dia anterior, Kotoky também falou de suas preocupações sobre as águas do futuro. Infelizmente, não foi possível ficar muito tempo na aldeia, pois tínhamos um longo vôo pela frente até Alta Floresta. No percurso, deixamos para trás as florestas intactas do parque, passando a sobrevoar desmatamentos para criação de gado principalmente. Chegando a Peixoto de Azevedo, e ao rio do mesmo nome, deparamos com a ação de garimpos de ouro e a conseqüente devastação. Do ar, a cena choca e decepciona. Os poços contendo água das várias cores, vazando para dentro do rio. Pior, às vezes, o rio invade os poços dos garimpeiros, carregando produtos nocivos que contaminam com resíduos a água. Surge a pergunta: um indivíduo, na sua busca de ouro e riqueza, tem o direito de envenenar águas que abastecem milhares de outras pessoas? Matar com um tiro, não pode; mas lentamente, por envenenamento, pode? Tristes com essa cena, seguimos até o rio Teles Pires, e corremos para pousar em Alta Floresta antes da chegada de um bom temporal… São nossas preciosas águas do Brasil caindo do céu.
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10/11/2003 – Alta Floresta-Rio Cristalino
Foi o dia de conhecer um rio de águas puras! Com ajuda da Vitória da Riva, dona do Cristalino Jungle Lodge, saímos de Land Rover e depois de lancha para atravessar o rio Teles Pires e subir o rio Cristalino, onde coletamos sedimentos para análise. A foz desse rio lembra o Encontro das Águas perto de Manaus, confluência dos rios Negro e Solimões. As águas escuras e frias do Cristalino encontram-se com as águas barrentas e quentes do Teles Pires e demoram um pouco para se misturar. O rio Cristalino é uma preciosidade, sendo (até agora) preservado e intacto da cabeceira até a foz. Nas suas margens, uma abundância de espécies vive em harmonia. A um quilômetro do Lodge, há uma torre metálica de 50 metros de altura para observação de aves… Vale a pena o esforço de subir e ficar contemplando a copa das árvores imensas da região, de ficar na mesma altura que as araras sobrevoando a região, de ver de cima os macacos-aranha pulando de galho em galho. Sensacional, até de repente ouvirmos um estranho zzzzt. Segundos depois, o ensurdecedor estrondo de um trovão. Pois é: o relâmpago passara a metros da torre! Cientes da nossa vulnerabilidade lá em cima, no ponto mais alto da vizinhança, descemos rapidinho. Eu nunca havia “ouvido” um relâmpago tão de perto!
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11/11/2003 – Circuito ao leste de Alta Floresta
Foi o dia de vôo mais lindo que tivemos até agora. Céu azulão, salpicado por pequenas nuvens amigáveis. Decolamos de Alta Floresta para um dia bem longo, mais de 6 horas de vôo, sem escala, para coletar apenas cinco amostras. Pois é. Mais de mil quilômetros de vôo, sobre uma região remota, virgem, maravilhosa. A floresta estendia-se intacta, soberba, por boa parte da viagem. Coletamos água em apenas 6 pontos, dois deles no rio Iriri Novo, um pequeno curso d’água, estreito e sinuoso. Depois, o magnífico Xingu, serpenteando sem pressa de chegar ao mar. Um rio imenso que se destaca em relação ao verde da floresta à sua volta. Queríamos ficar mais tempo contemplando a natureza majestosa, porém ficamos restritos pela gasolina e pelo tempo… À tarde, armam-se grandes tempestades nessa região e às 16h pousamos novamente em Alta Floresta, com chuva por todos os lados.
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12/11/2003 – Alta Floresta-Vilhena
O dia começou em Alta Floresta, não com os pássaros, mas com os macacos-prego que ficavam de olho nas frutas que comíamos no café da manhã no Hotel Floresta Amazônica. Decolamos rumo ao oeste, sobrevoando ora grandes florestas, ora desmatamentos, ora campos de pasto. Pensávamos que o rio de Sangue seria bem vermelho, como tantos outros da região, mas, não, a água era mais para azulada… A partir dessa coleta, a quinta do dia, os rios iam ficando sempre mais limpos. Uma beleza. O Juruena então… um sonho! Estava na hora do almoço e escolhemos uma ilha no meio do rio com uma pequena praia. Pousamos, encalhamos o avião na areia e pulamos para fora, com cuidado para não pousar em uma arraia, felizes com a descoberta de que, pelas pegadas na areia, parecia que também era freqüentado por capivaras. Após meia hora, decolamos de novo, e a cada milha que voávamos, os rios – o Juruena, o Papagaio e o Buriti – ficavam mais limpos: águas esverdeadas, depois verde-azuladas, depois azuis transparentes, traçando caminhos sinuosos pelas matas e de vez em quando deixando pequenas praias de areia branca nas margens… Esta região do Mato Grosso é deslumbrante, bastante intacta ainda, uma mistura de florestas densas e cerrado verde, com terras altas e chapadões cortados por rios transparentes. Em Utiariti, sobrevoamos uma magnífica cachoeira (terminando essa campanha, colocaremos as fotos dessas maravilhas na Galeria). Algumas áreas são preservadas em terras indígenas, mas os tratores que detonam o verde estão chegando cada vez mais perto… Será que há tempo, ou mesmo vontade política, de evitar que esses rios também se tornem barrentos, como os outros que sobrevoamos atravessando o país desde o Rio de Janeiro? Passamos por uma tempestade de areia provocada pelos ventos fortes acima dos campos de soja ainda sem vegetação, antes de pousar em Vilhena, Rondônia. Chegamos ao mesmo tempo que o helicóptero vermelho dos amigos Jennifer Murray e Colin Bodill, vindo de Santarém a caminho do Pólo Sul. À noite, trocando anedotas e aventuras, jantamos peixe na telha. O maior temporal desabou sobre a cidade: a telha que estava na mesa deveria ter ficado no telhado!
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13/11/2003 – Vilhena-Cáceres
Uma semana de céu azul estaria de bom tamanho. Hoje, as nuvens beijavam o chão, engolindo as torres das antenas. Conseguimos decolar somente as 10h, voando em formação com Jennifer e Colin no helicóptero. Quando uma tempestade enorme fechou o caminho, seguimos cada um para o seu destino: nós para Cáceres e eles para Cuiabá. Atravessamos a Chapada dos Parecis, seguindo o leito do rio Juruena através das terras altas – um lugar lindo de vegetação rasteira. O rio, sempre de águas azuis e transparentes, traçava seu caminho sinuoso entre pequenas planícies inundadas e campos de palmeiras. Outra tempestade fechou o caminho, nos obrigando a desviar para achar a rota até o ponto de coleta no rio Jauru, passando da bacia do Amazonas à do rio Paraguai. Percebemos uma grande diferença: os rios que nascem na Chapada e sobem para o norte, onde o impacto humano e da agricultura é bem menor, são ainda limpos e cristalinos. Os rios que descem para o sul já começam barrentos porque as cabeceiras foram desmatadas e a erosão enche os rios de terra vermelha. A última coleta, antes de pousar em Cáceres, foi no próprio rio Paraguai, dentro da cidade. De um lado do rio, os pescadores aguardavam, pacientes. Do outro lado, aguardavam os jacarés, também pacientes! No aeroporto, fomos recebidos pelo amigo Cabral e pelo prof. Guaraci para comemorar o Festival das Águas, evento que está acontecendo na cidade.
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Rápida visita ao centro da cidade de Cáceres para tirar fotos da “baía”, nome dado ao braço do rio Paraguai que passa em frente à cidade. Neste local, onde pescadores e jacarés convivem numa boa, o motorista do táxi lamentou a pouca água que tinha no rio, dizendo que a cada ano que passa há menor quantidade. Decolamos do imenso aeroporto às moscas (igual ao dia anterior), sobrevoando a maravilhosa Serra das Araras a caminho de Cuiabá. Lá estava o helicóptero vermelho de Jennifer e Colin, eles nos esperavam na BR Aviation. Foi um reencontro divertido, filmado pelo Fantástico, com um voozinho até Santo Antônio de Leverger. De volta à cidade, o Sr. Guaraci da UNESCO e o amigo Cabral nos levaram ao Palácio do Governador para sermos apresentados ao governador Blairo Maggi. Assim, pudemos agradecer a hospitalidade recebida numa de suas fazendas quando pousamos no dia anterior, esperando uma tempestade passar. O governador se mostrou bem interessado no projeto Brasil das Águas, e nós em saber dos planos de seu governo em prol da mata ciliar, preservando-a onde ela ainda existe e replantando onde ela foi desmatada. Em Mato Grosso, apenas um quinto da mata ciliar está degradado: se ele conseguir reverter essa situação, Mato Grosso será um exemplo para todo o Brasil. Outra boa idéia é a criação de um “selo verde” para fazendeiros que trabalham em harmonia com a natureza.
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15/11/2003 – Circuito ao norte de Cuiabá
Feriado e nem sabíamos! A gente perde toda a noção dos dias da semana; a data então…! Mas para nós, dá no mesmo: feriado ou fim de semana, estamos voando. Hoje decolamos bem cedo de Cuiabá a caminho de Brasília, nos despedindo novamente de Jennifer e Colin. Fomos fazer um circuito de coletas pelo norte, subindo pelo rio Arinos e voltando novamente pelo Teles Pires, na altura de Sorriso. A maioria dos rios é barrenta, tão diferente do que vimos no oeste de Mato Grosso, mas o rio Verde, por exemplo, é verde mesmo! E uma região que está se tornando um grande pólo de plantações de soja – para quem está no ar, é triste ver os imensos campos quadriculados no meio da floresta diversificada e as magníficas árvores, outrora casa e comida de tantas outras formas de vida, jogadas no chão pelos tratores, virando cinzas. Para quem está em terra, a mata deve parecer sem fim… Na última coleta do dia, no rio Teles Pires, quando entramos numa curva acima da mata ciliar para descer no rio, duas araras-azuis levantaram vôo. Lindas, um belo contraste com o verde da mata. Tomara que reste sempre alguma mata para a sobrevivência delas nesse estado tão rico em natureza.
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16/11/2003 – Cuiabá-Chapada dos Guimarães
Fomos convidados a passar pela represa Manso ao norte de Cuiabá. Ao sobrevoá-la, percebemos que muitas lanchas e jet-skis já estavam passeando pelo lago, criando marolas. Resolvemos não arriscar o pouso e seguir viagem para Barra do Garças para reabastecer, visando o pernoite em Aruanã (GO) às margens do rio Araguaia. Havia algumas formações pesadas ao norte da Chapada dos Guimarães, mas nosso caminho ao sudeste parecia bom. Sabendo que o aeroporto de Barra do Garças estava operando visual, começamos a atravessar a Chapada com seus espetaculares paredões vermelhos. Faltando pouquíssimos kms para sair da Chapada, estávamos cercados por chuvas e tempestades. Como se fosse por encomenda, avistamos abaixo das asas uma pista de grama, com biruta e tudo. Obviamente, tendo uma pista à disposição, era melhor pousar e esperar o tempo melhorar. Porém, a pista era curta e muito desnivelada, e a grama, molhada e alta. Ao perceber que as condições não eram nada boas, Gérard decidiu arremeter… Mas a grama segurava o avião e os desníveis fizeram a aeronave perder velocidade… Levantamos vôo, mas uma das rodas acabou raspando o fio de arame da cerca da pista. Resultado: o Talha-mar ficou na Chapada. Nós saímos ilesos, sem nenhum aranhão. Conseguimos salvar todo o equipamento e todas as amostras coletadas na campanha pelo Centro-Oeste. Estamos tristíssimos com o que aconteceu, mas determinados a continuar com o projeto Brasil das Águas. Desde então, recebemos mensagens de carinho e força dos quatro cantos do Brasil: com certeza, toda essa solidariedade vai ajudar o Talha-Mar a sacudir a poeira e levantar vôo novamente após os reparos! Em breve, teremos notícias.