Águas passadas
Além de não poluir as ruas para não poluir os rios, podemos todos ajudar repensando as maneiras de usar a água.
No decorrer dos 14 meses em que coletamos as amostras em todo o Brasil, tivemos a oportunidade única de contemplar os mananciais de uma posição privilegiada – do ar. Esta pequena seleção de fotografias – dentre as milhares tiradas – serve também como “amostras de água”.
Se a cada fase realizada do projeto ficávamos mais convencidos da importância de proteger os recursos hídricos para melhorar o presente e garantir o futuro, também a cada dia que passava nos tornávamos mais impressionados com a quantidade de água que o país possui.
Em todos os lugares por onde passamos, a reclamação foi a mesma: águas poluídas que vêm descendo o rio. Enquanto isso, naquela mesma cidade, os esgotos também iam para o rio sem tratamento – sem falar do lixo doméstico convenientemente levado embora pela correnteza. Um contra-senso se pensarmos na nossa dependência em ter acesso à água limpa para simplesmente viver.
O tratamento dos esgotos industriais e domésticos é urgente. Vamos parar de envenenar os rios sem consideração para com os que moram rio abaixo. Em regiões como o Nordeste, onde a água já é escassa, é uma aberração poluir os poucos recursos que existem.
Ao controlar o desmatamento, diminuímos o assoreamento dos rios, evitamos interrupções no ciclo das chuvas e permitimos que a floresta ajude a penetração da água no solo para reabastecer os lençóis freáticos. Se as autoridades municipais, as indústrias e os fazendeiros agissem com responsabilidade, e as leis já existentes fossem aplicadas com rigor, poderíamos todos desfrutar de águas limpas.
A pureza da água e do ar é de interesse comum, transcendendo fronteiras. Em 2005, a ONU lançou a Década da Água, visando a estimular continentes, países e municípios a implementar medidas para racionalizar a demanda e despoluir a água, além de ampliar a distribuição de água limpa a toda a população. Um desafio que mereceu destaque nas Metas do Milênio, que indica um conjunto de oito macroações gerais a ser desenvolvido em todo o mundo. Além de não poluir as ruas para não poluir os rios, podemos todos ajudar repensando as maneiras de usar a água. Nosso bem-estar depende de águas limpas, mas elas dependem de nós. Cada um pode colaborar, fazendo a diferença na esfera que lhe compete – dona-de-casa, prefeito, deputado, empresário, agricultor – usando uma arma comum a todos: o bom senso.
Margi Moss