Campanha 1 – Bacia do Rio Paraná
Diário de bordo dos vôos no Talha-mar coletando amostras de água na bacia do Rio Paraná em outubro de 2003.
02/10/2003 – Rio de Janeiro-Varginha
Por melhor que seja o planejamento, ocorrem imprevistos que atrasam a decolagem… Quando o Talha-Mar finalmente levantou vôo, carregando todo o equipamento necessário para 15 dias de viagem, o tempo foi suficiente apenas para poucas coletas (uma delas foi no Paraíba do Sul, perto de Volta Redonda) antes de tocar o solo em Varginha (MG), na hora do pôr-do-sol.
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03/10/2003 – Varginha-Uberlândia
Aproamos para o noroeste, seguindo uma seqüência de represas no rio Grande, inclusive a imensa represa de Furnas. Emocionante mergulho no estreito vale do rio Peixoto – parecia um cânion! Sob forte calor, pousamos em Uberaba para fazer uns ajustes no carrossel do laboratório… Felicidade nossa quando Edson, do Aeroclube, salvou nossa pele (literalmente) abriu o hangar, permitindo que trabalhássemos na sombra. Melhor ainda: havia um restaurante ao lado do Aeroclube! Para recuperar o tempo perdido no dia anterior, decolamos novamente, fazendo coletas pelo rio Paranaíba e na represa de Itumbiara, terminando o dia bem cansados.
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05/10/2003 – Uberlândia-Campinas
Acabamos o conserto do carrossel e decolamos rumo ao sudeste, coletando amostras em vários rios menores, afluentes da bacia do Paraná. Eram rios lamacentos ou assoreados e, após uma coleta difícil no Mogi-Guaçu, no domingo, resolvemos encerrar o expediente mais cedo, chegando a Campinas na hora do almoço. A fome saciada, Gérard levou Roberto, do site 360 Graus, para uma demonstração de coleta num lago das redondezas.
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06/10/2003 – Campinas-São José do Rio Preto
Depois de quatro dias de céu azul, a segunda-feira amanheceu com uma densa névoa seca. Saímos de Campinas diretamente para Broa, ao encontro do Prof. Donato da IIE (Instituto Internacional de Ecologia) de São Carlos, para entregar as amostras congeladas para análise. As primeiras coletas do dia foram nas águas esverdeadas da represa de Barra Bonita. Após uma parada em Bauru para abastecer e comer um bauru (claro!), seguimos acima das águas ainda mais verdes da represa Promissão. Sopa de ervilha ou creme de abacate? Nenhuma dessas descrições deveria ser aplicável à água, porém a cor da água é assim… Ficamos chocados. Os fertilizantes seriam os responsáveis? (Fertilizantes têm “responsabilidade”?) A mata é quase inexistente nas margens destas represas. Pernoite em São José do Rio Preto.
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07/10/2003 – São José do Rio Preto-Araçatuba
Dia encoberto e sombrio. Decolando de São José do Rio Preto, passamos novamente pelo rio Pardo, onde, há uma semana, a Usina da Pedra (Serrano, SP) despejou 8 milhões de litros de melaço, matando milhares de peixes, numa extensão de dezenas de quilômetros rio abaixo. Depois, seguimos o rio São José dos Dourados até Ilha Solteira. As coletas nas águas milagrosamente limpas do Baixo Tietê foram atrapalhadas pelo mau tempo. Voltaremos. Pousando no rio ao lado do Iate Clube de Araçatuba, fomos recebidos por Selma Rico e muitas pessoas ligadas ao assunto água. Parabéns à cidade de Araçatuba que trata 100% do esgoto. Durante o almoço, boooom! Raios e trovoadas: a chuva torrencial parecia querer afundar o Talha-Mar “encostado” na beira do rio. Só no fim da tarde foi possível levá-lo ao abrigo de um hangar no aeroporto.
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08/10/2003 – Araçatuba-Presidente Epitácio
Enfim, o sol voltou e, logo antes de decolar de Araçatuba, o Boeing do Presidente Lula aterrissou, mas sem ele a bordo! Após reabastecer em Presidente Prudente, subimos o Paraná até a confluência com o rio Verde (que não é verde, é barrento) e descemos fazendo várias coletas. O vento era muito forte, provocando marolas nas represas. Ao pousar em Presidente Epitácio, a equipe da ONG Apoena nos esperava com o prefeito da cidade. Almoço no Hotel Termas: peixada nota 10!
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09/10/2003 – Presidente Epitácio
Há alguns anos, a Apoena (Associação em Defesa do rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar) trabalha plantando árvores e ensinando sobre a preservação da mata ciliar. Na reserva da Lagoinha, plantamos uma figueira na área de reflorestamento com árvores nativas. À tarde, uma frente fria chegou com ventos de 90 km/h, que arrasaram a cidade com sérias conseqüências, das quais saberíamos somente no dia seguinte.
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10/10/2003 – Pres. Epitácio-Porto Primavera
Soubemos que vários pescadores estavam sumidos desde a ventania da tarde anterior. Uma lancha virou com o vento, dois pescadores passaram a noite na água e ainda estava desaparecido um PM-pescador. Fizemos um vôo de busca e salvamento acima da represa sem poder localizá-lo, mas felizmente ele foi encontrado com vida. Um pescador paulista não teve a mesma sorte. Os moradores dizem que antes da construção da represa não havia ventos destrutivos como agora. Cortamos pelo interior para seguir o rio Paranapanema até Porto Primavera, sempre sob teto baixo e com ameaça de chuva.
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11/10/2003 – Porto Primavera-Guaíra
O sábado amanheceu com chuva. Mas, lá pelas 10h da manhã, o tempo limpou e estávamos no ar com o sol iluminando a imensidão da represa de Porto Primavera. O vento continuava muito forte. Três horas mais tarde, após muitas pancadas nas marolas ao realizar as coletas, estávamos tensos e cansados. Subitamente, notamos abaixo das asas uma pista de asfalto estendida no campo, hesitamos… mas pousamos. Recebemos as boas-vindas na Fazenda Baunilha, com direito a usar o banheiro (ufa!), esticar as pernas, respirar fundo e além disso, compartilhar um delicioso almoço com a família Muradas. Continuamos rio abaixo, ainda com um vento muito forte que atrapalhava as coletas. Finalmente pousamos em Guaíra (PR). Fim da linha nessa etapa. Aqui começa a represa de Itaipu, que engoliu as maravilhosas cataratas das Sete Quedas. Uma grande e desnecessária perda para a humanidade.
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12/10/2003 – Guaíra-Londrina
Cada aeroporto é uma festa. O pessoal de Guaíra – Cyro, Cristiane, Toninho, Julio, Marcelo – também nos prestigiou. De manhã cedo, saímos de lancha para conhecer a lagoa de Saraiva, um paraíso escondido no meio de uma ilha no rio Paraná. De volta ao avião, aproveitamos o dia ensolarado para fazer rasantes no rio e tirar fotos antes de seguir rumo a Maringá e Londrina, deixando para trás o azul do rio Paraná. Os rios no interior do estado estão todos lamacentos. Antes de pousar em Londrina (PR), coletamos água do rio Tibagi. Também lamacento.
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Um dia bem diferente. Em vez de correr para o aeroporto, fomos para a escola. Precisamente a Escola Moacyr Teixeira, onde demos uma palestra para 300 crianças sobre o projeto e a importância da água. Foi uma festa. À tarde, deixamos o simpático Aeroclube de Londrina e seguimos novamente pelo rio Paranapanema, tentando coletar água de várias represas, até que o vento, fortíssimo, nos obrigou a desistir. Pousamos em Avaré (SP) e fomos acolhidos por Marcelo Ferreira, amigo desde a volta ao mundo do Ximango, em 2001.
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14/10/2003 – Avaré-Rio de Janeiro
Enfim, o vento amainou um pouco! Após mais uma seqüência de rasantes pela represa Jurumirim, aproamos para a pequena pista de Broa (SP), onde tínhamos marcado um encontro com o Prof. Donato, do IIE, para entregar as amostras congeladas durante essa etapa do projeto. Depois de um lanche e uma visita relâmpago à equipe acrobática de T-6 de Carlos Edo, em Campinas, corremos para alcançar o Rio de Janeiro antes do anoitecer. A cidade, agachada ainda sob grossas nuvens pretas, se recuperava de quatro dias de chuvas ininterruptas. O Talha-Mar pousou tranqüilamente na pista molhada de Jacarepaguá.