Pesquisa
Durante as expedições de barco pelos rios selecionados, amostras de água foram novamente coletadas e posteriormente analisadas em laboratórios. Cada pesquisador tem sua especialidade e contribuiu com novas informações que complementaram o estudo.
Os pesquisadores que participaram do projeto foram:
Dr. José Galizia Tundisi e Dr. Donato Seiji Abe do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), São Carlos, SP. Estudando a concentração de carbono, nitrogênio e fósforo na água e através da concentração de fósforo total, classificaram as amostras em um Índice de Estado Trófico (IET).
Dr. Rodolfo Paranhos Instituto de Biologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), RJ. Determinou a abundância celular do bacterioplâncton.
Dra. Maria do Socorro Rodrigues – Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia – Universidade de Brasília (UnB), Dra. Iná de Souza Nogueira – Doutora em Ciências Biológicas (Botânica) pela USP e ligada ao Laboratório de Limnologia, Univ. Federal de Goiás e Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira – Mestre em Ecologia pela UnB. Examinaram a biodiversidade do fitoplâncton nas amostras coletadas.
DADOS FÍSICO-QUÍMICOS (Dr. José Galizia Tundisi e Dr. Donato Seiji Abe)
As seguintes informações, que ajudam os pesquisadores a entenderam as características das amostras de água, foram medidas usando uma sonda portátil fornecida pela Mettler Toledo.
Temperatura: a temperatura da água é uma medida importante para complementar os dados das pesquisas. Pode ser relacionada à salinidade e à presença de alguns organismos aquáticos, pois, dependendo da temperatura da água, existirão diferentes espécies de plantas e animais no local.
Condutividade: é a capacidade da solução de conduzir a corrente elétrica. Quanto maior a quantidade de íons (átomos com cargas positivas ou negativas), provavelmente, maior será a condutividade da água. A temperatura e o pH também podem influenciar na condutividade.
Salinidade: é a quantidade de sais minerais misturados na água. Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), as águas podem ser classificadas quanto à salinidade em: águas doces (rios e lagos), salobras ou salinas (mar). Um agente natural muito importante na diminuição do valor de salinidade das águas é a chuva, que diminui a quantidade de sais minerais nas águas, diluindo-os. As águas doces possuem salinidade menor que 0,5.
Oxigênio dissolvido: é a quantidade de oxigênio misturado na água, disponível para a utilização pelos os seres aquáticos, para a respiração, por exemplo. Assim, o oxigênio dissolvido na água é fundamental para a vida dos organismos aquáticos que o respiram. As principais fontes de oxigênio para a água são a própria atmosfera e a fotossíntese, processo realizado por microalgas. A quantidade de oxigênio dissolvido na água depende de fatores como: densidade e temperatura. Para a classificação do CONAMA, águas da Classe 1 devem possuir concentrações de oxigênio maiores do que 6 miligramas em cada litro de água.
pH: a água é uma molécula formada por átomos de hidrogênio e oxigênio (H2O). Esta molécula pode se separar em H+ e OH -, formas que tendem a ficarem em quantidades iguais na água, devido à suas cargas elétricas. Podemos chamar de solução, um líquido com mais de um componente. Em relação ao pH, potencial hidrogênio, as soluções podem ser classificadas em 3 tipos. Uma solução neutra possui quantidades iguais de H+ e OH– e valor de pH = 7, a solução ácida possui maior quantidade de H+, com valor de pH entre 0 e 7 e a solução básica, tem maior quantidade de OH–, apresentado valor de pH entre 7 e 14. O CONAMA classifica como Classe 1, águas com pH entre 6 e 9. Águas com valores baixos de pH são encontradas, por exemplo, na região Amazônica; valores altos de pH podem ser encontrados em locais onde a água evapora mais do que chove.
Saiba mais sobre pH: O pH é definido como o logarítimo negativo da quantidade (concentração molar) de íons hidrogênio. Isto quer dizer que uma substância com grande quantidade de H+, portanto pequena quantidade de OH-, terá um valor de pH baixo e uma substância com pequena quantidade de H+ possuirá um valor alto de pH. Em relação aos organismos, o pH atua na permeabilidade da membrana celular, ou seja, atua no transporte de substâncias dentro das células do corpo e nas trocas entre o corpo e o meio ambiente.
ESTADO TRÓFICO (Dr. José Galizia Tundisi e Dr. Donato Seiji Abe)
Dentro da pesquisa de composição química da água, são analisadas as concentrações de fósforo total presentes nas amostras. O nitrogênio também é um dos elementos mais importantes no metabolismo de ecossistemas aquáticos, principalmente a sua participação na formação de proteínas. Também são analisados os ânions (nitrato e nitrito) e o amônio. Dentre as diferentes formas presentes nos ambientes aquáticos, o nitrato e o amônio assumem grande importância, uma vez que representam as principais fontes de nitrogênio aos produtores primários. A partir destas concentrações, as amostras são classificadas como oligotrófica, mesotrófica, eutrófica ou hipereutrófica. Especificação dos índices de estado trófico adotados pela CETESB. Extraído do Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo – 2002.
Classificações e especificações:
Oligotrófico: Corpos de água limpos, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água.
Mesotrófico: Corpos de água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitáveis na maioria dos casos.
Eutrófico: Corpos de água com alta produtividade em relação às condições naturais, de baixa transparência, em geral, afetados por atividades antrópicas, em que ocorrem alterações indesejáveis na qualidade da água e interferências nos seus múltiplos usos.
Hipereutrófico: Corpos de água afetados significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento acentuado nos seus usos, podendo inclusive estar associados a episódios de florações de algas e de mortandade de peixes e causar conseqüências indesejáveis sobre as atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas.
BACTERIOPLÂNCTON (Prof. Rodolfo Paranhos)
Prof. Rodolfo Paranhos pesquisou bacterioplâncton nas amostras coletadas pelo projeto Brasil das Águas na pesquisa de âmbito nacional. Interessado pela correlação entre a relação de bacterioplâncton com a qualidade da água, ele novamente analisou as amostras trazidas pelo projeto Sete Rios.
As bactérias são formas muito antigas de vida em nosso planeta e têm um papel importante no ciclo dos organismos aquáticos: servir de alimento para organismos maiores, como protozoários, que serão comidos por pequenos animais, e, estes, por animais maiores, como peixes. As bactérias também ajudam na transformação e decomposição da matéria orgânica, quebrando o tronco de uma árvore que tenha caído no rio em vários pedacinhos, por exemplo.
Plâncton são organismos que vivem “flutuando” na água, portanto, bacterioplâncton são bactérias que vivem flutuando na água.As bactérias podem produzir ou não seu próprio alimento, sendo chamadas de autotróficas ou heterotróficas, respectivamente. Na pesquisa, será determinada a quantidade de células do bacterioplâncton em amostras de 2 mL, tentando diferenciar as bactérias autotróficas do bacterioplâncton heterotrófico, através da técnica de citometria em fluxo.
FITOPLÂNCTON (Dra. Maria do Socorro Rodrigues, Dra. Ina de Souza Nogueira, Elizabeth Arantes de Oliveira)
O fitoplâncton é constituído de plantas diminutas com tamanho médio em torno de 20µm (0,020mm) cuja visualização é possível com o auxílio do microscópio. As algas que compõem o fitoplâncton flutuam livremente nas águas e são o elo primário das cadeias alimentares dos ambientes aquáticos pois realizam fotossíntese graças ao pigmento conhecido como clorofila. Contribuem em grande parte para o oxigênio existente na Biosfera, essencial à vida de plantas e animais. Há no fitoplâncton as cianobactérias, que fazem parte dos organismos mais antigos do planeta. São capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e vivem em simbiose com diversas plantas.
Em alguns casos, seu crescimento exagerado produz “florações” com eventual liberação de toxinas que comprometem a qualidade da água para consumo humano e de animais. Atualmente as “florações” de cianobactérias têm despertado interesse geral e sua ocorrência e abundância têm sido objeto de consideração em legislação específica no Brasil. O trabalho objetivou avaliar a qualidade das águas de alguns rios brasileiros com base na diversidade fitoplanctônica e na ocorrência de cianobactérias potencialmente tóxicas.